Por Lucy Jesus
A pedido de Lucy os nomes verdadeiros foram substituídos.
Olá, pessoal
É uma pena que não estou conseguindo treinar com vocês. Tô numa roda-viva danada, mas acho que esta semana as coisa devem se estabilizar (tenho dito isso todos os domingos há mais de um ano - hehehehehe).
Bom, vamos ao que interessa. Hoje tive um treino no mínimo emocionante. Montamos uma equipe de última hora para a prova do dia 14. Vamos com Antuá, Marçal, Ívio (amigo do Marçal e estreiante) e eu. Decidimos marcar um treino hoje para integrar a equipe e pegar um pouco de técnica, já que ninguém, exceto Antuá, sabe fazer o leme. Marcamos 7:30 na Rua K e lá estávamos todos contentes de fazer nosso primeiro treino juntos. Primeiro erro: Não inspecionamos os caiaques. Um deles estava com um orifício que fica na proa aberto. Funciona como dreno, mas deve estar sempre tampado. Erro número dois: Saímos sem colete salva-vidas. Aqui vale a minha auto-crítica. Eu não poderia ter previsto o problema do caiaque, que narrarei em seguida, mas deveria ter insistido no uso dos coletes. Marçal chegou a questionar, mas acabamos não usando mesmo.
Saímos eu e Marçal em um caiaque. Ívio e Antuá no outro. Depois decidimos inverter e Antuá veio fazer o leme no caiaque em que eu estava. A ida foi tranqüila. A gente até encontrou a turma da Aventureiros 3000 lá.
Na volta, cometemos o terceiro erro. Deixamos que os caiaques se afastassem. Quando Antuá percebeu que estávamos afundando o outro caiaque estava longe. Tentamos gritar, mas com o vento contra ninguém ouviu. A essa altura o barco da Trimix com um grupo de mergulhadores que estava nos arredores já tinha sumido. Não havia ninguém. Lembrei das minhas aulas de mergulho e comecei a sinalizar pedindo socorro. Sabia que alguém ia ver, mesmo que eu não visse - Engano meu. Ninguém viu.
Decidimos então nadar. Lembrei da situação que a Lu passou e tentei lembrar o que ela fez no final, mas que nada. Só conseguia lembrar da metade do release. Então, daí em diante acho que repetimos todos os erros e acertos possíveis. Primeiro Antuá desceu do caiaque e foi empurrando enquanto eu remava que nem uma máquina. Acho que acabei aprendendo.. . (agora dá pra rir, mas acreditem! Não foi engraçado!!!)
Depois de um certo tempo, sugeri ao Antuá que trocássemos já que ele remava com mais força e eu me garanto mais na pernada. Quando tentamos trocar de posição, o caiaque virou. Consegui manter o controle emocional e nesse ponto tenho que agradecer ao Antuá também. Ele foi muito centrado e manteve a calma o tempo todo. Passei a puxar o caiaque pela cordinha na proa; Antuá vinha empurrando a popa. Pernada vai, pernada vem. Ele pegou os remos pra eu nadar melhor, mas nada. Parecia que nadávamos de ré. E acho que nadávamos mesmo.
Depois de conseguir sair do redemoinho em que estávamos finalmente conseguimos sentir que a praia estava mais perto. Dava até pra ouvir o pagode que tocava lá. A essa altura, eu segurava um remo em uma das mãos e o caiaque na outra, restando apenas as pernas pra levar a gente adiante.
Isso sem falar do meu squeeze que passava de uma mão à outra e toda hora tentava fugir até que consegui prendê-lo na calça. Pensei em abandoná-lo, mas não o fiz porque fiquei com vergonha de poluir o mar. Mais tarde, quando tive medo de me afogar, acabei achando que ele poderia me salvar, afinal de contas... ele bóia.
Bom, cada vez que eu cansava as pernas começava a fazer sinal com o braço, com o remo e com a alma pra ver se alguém me via!! Eu sabia que não ia agüentar muito tempo. O caiaque, que vinha servindo de bóia, estava cada vez mais pesado e afundava mais e mais. Estava ficando realmente perigoso. Quando estávamos há uns 150 m da praia, Antuá me sugeriu ir nadando sozinha enquanto ele trazia os barcos e os remos. Estava perto da praia e solta eu conseguiria nadar melhor.
Comecei a nadar... Mas os braços já não rendiam tanto porque fiquei com eles travados muito tempo segurando os equipamentos. Avancei um pouco, mas quando olhei pra areia ela continuava longe. As ondas me levavam pra trás e o Antuá estava longe. Entrou água no meu nariz. Aí é que eu tive medo. Até então eu estava confiante. Antuá percebeu e veio carregando os dois remos e o caiaque para me acudir. Agarrei o caiaque, que já não prestava para nada e continuei batendo perna...
Finalmente os salva-vidas nos viram, há uns 50m da areia. Fiquei tão feliz!!! Vieram dois. Um deles me colocou em cima da prancha e me rebocou de volta à paz da areia. O outro ficou ajudando o Antuá.
Saindo na areia eu tremia tanto que nem conseguia falar. Não sentia cansaço, mas uma fraqueza sem fim. Parecia que minha alma tinha ido dar umas voltas no reino de Yemanjá. Na areia encontramos Marçal que estava à nossa procura. Voltamos de carro para a rua K. Vale dizer que estávamos em Piatã!!!!
Galera, depois que passa o susto, fica só a aventura. Mas aprendi muito hoje. Não é divertido arriscar a vida. Nenhuma aventura vale isso. Eu só pensava que tinha que chegar à praia porque tenho um filho pra cuidar. Não dá pra brincar com segurança.
Não culpo o Antuá porque segurança é responsabilidade de todos. Eu deveria ter interferido. Ainda bem que pude voltar para contar a história. Sei que a maioria de vocês já tem experiência e vou chover no molhado. Mas para quem está começando ou para quem acha que é imune aos perigos fica o alerta. Sem colete nunca mais! Sem inspecionar o barco não boto o pé na água.
Se mesmo com colete e todos os cuidados acontecer algum problema, aí temos que manter a cabeça no lugar e confiar no companheiro de equipe. Nós focamos em sair dali. Não ficamos questionando o quê ou o porquê do barco ter afundado. Só conversamos sobre nossos erros quando já estávamos em terra firme. Acho que isso nos ajudou muito.
Temos uma semana de treino pela frente e uma competição no sábado. Não abram mão da segurança!
Boa noite para todos.
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