Vou começar confessando algo muito feio: eu não estava com vontade de correr. Pois é, eu estava chateada, desmotivada, igualzinho ao Joseph Climber. Mas eu já tinha me comprometido com Manu, Márcio Xuxu e Tadeu. Não dava para ligar para os meninos e dizer “sabe, não vou mais...”. Meu trabalho também está hard core e eu só treinei nos dois finais-de-semana antes da prova (Navarro vai me matar quando ler isso porque ele mandou a planilha e eu não fiz nada!). RELEASE JUNGLE ADVENTURE - JULHO 2009Chegamos no local da largada e reencontramos todos os nossos queridos aventureiros. A equipe se reuniu para separar equipamentos. Pegamos os mapas e começamos a estudar. Eu e Márcio marcando os pontos, distâncias e traçando o nosso percurso, Manu e Tadeu de apoio na iluminação e cálculo de distâncias. Plastificamos tudo e fomos para a largada. Foi muito legal estarmos as três equipes juntas nesse momento, nos abraçamos e desejamos sorte uns aos outros.
Largamos na praia mesmo, decidimos não ir por cima, a distância era pequena e chegamos no local da travessia. O rio estava com correnteza e juntamos umas 3 ou 4 equipes para atravessarmos juntos. Não posso negar que eu ri muito porque quando alguém se soltava, caía na correnteza e passava por nós de volta ao ponto de onde partimos, parecia vídeo cacetada. Nessa hora descobrimos que Tadeu tem medo de água com correnteza, Xuxu macho que o ajudou a atravessar, foi muito legal. Saímos da água e fomos buscar o PC1. Começamos um trekking e quando o caminho ficou mais plano eu dei uma sacudida na galera “vamos dar um trote?” E fomos os 4 correndo por um bom trecho. Próximo ao PC 1 passaram por nós, já voltando, a Gantuá, as Makaíras e a Caiçara. Isso deu uma energia por que tivemos mais certeza da navegação. No PC encontramos Arnaldão com o pessoal da Insanos. Voltamos para o ponto onde prosseguiríamos ao PC 2.
Eu comecei a sentir minha barriga fazer uns barulhos estranhos e na metade do trecho eu caí de joelhos no chão urrando de dor, eu cravava a mão na terra e só fazia gemer sem conseguir explicar o que tava acontecendo. Minha pressão baixou, comecei a suar frio e o povo passando e perguntando o que era e os meninos “nada, tá sob controle” sob controle? Eu não consegui nem responder. Quando a dor diminuiu a ponto de eu conseguir falar eu me lembrei que comi um hambúrguer na saída porque o rango da comunidade não deu para todo mundo. Tive que ir ao matinho... Duas vezes! Numa dessas perdi os meus óculos, sacanagem... Os meninos disseram que eu tava marcando o caminho, rsrs. Quero deixar claro que só contei isso porque fui ameaçada que se não colocasse no release iriam contar de uma forma bem pior. Fiquei preocupada porque estava desidratando muito rápido, fiquei fraca, com as pernas bambas, mas não quis deixar o pessoal mais preocupado. Manu me disse depois, que ficou preocupado achando que era apendicite e tentando montar um plano de resgate para mim, rsrs. Bom, nessa aí perdemos uns 15 minutos, eu acho. Fomos até a cerca, começamos a subir o morro e descemos. Ficamos na dúvida. Demos uma volta danada dentro daquele mato, ficamos 45 minutos rodando, encontramos um pé de cansanção gigante que nos marcou em todos os sentidos. Decidimos voltar até o ponto da bifurcação do PC1, onde tínhamos certeza. No retorno encontramos a AA1 seguida da AA2, eles buscavam o PC2 também. Voltamos à bifurcação e começamos a fazer a navegação cri-cri, contando passos e medindo distância.
Subimos o morro novamente, descemos e encontramos uma galera, tinha muita gente que eu não conheço, mas a Raissa e o Luiz estavam lá. Fomos juntos, confiando na nossa navegação. Chegamos ao rio onde teria uma travessia, o pessoal estava voltando de lá, mas eu disse “vamos margeando o rio” e fomos num mangue que não acabava nunca, Xuxu sempre checando o azimute, os pés afundando que era uma beleza. Quando o azimute mudou decidimos “esse é o ponto de travessia”. O pessoal ficou meio assustado, Tadeu disse “outra não!” E eu, acreditem, enxerguei um jacaré do outro lado. Só via os olhos brilhando. Fui convencida que era um galho e entramos na água todos juntos novamente. A correnteza começou a nos arrastar, Manu e Xuxu se agarraram num galho e começaram a nos puxar. Um alguém que não conheço me ajudou a sair da água. Fica aqui o meu agradecimento ao desconhecido.
É por isso que eu amo esse esporte, pessoas que nunca se viram num esforço em conjunto.
Recomeçamos o nosso trekking na lama, foi muito legal essa parte, na minha opinião. A maioria não gostou, porém isso sim é aventura! Cortar mato, atravessar mangue, seguir um azimute. Por causa dessas coisas é que faço na corrida de aventura, senão eu faria triathlon. Esse trecho foi bem cansativo, Manu, Xuxu e o desconhecido revezaram para abrir caminho na vegetação do mangue, um mato que chegava à altura do meu pescoço. Avistamos uma luz distante... É a fazenda! PC2!! Uhuuuuu!! Vamos lá, vamos lá! Chegamos no PC trocamos tênis por sapatilha, comemos e bebemos água. Fui ver Maurobildo, ele tava bem (foi o que me disse), pegamos nossas coisas e rumo ao PC 3. Manu tomou logo uma queda nas valas com o pé preso na pedaleira. Eu fui “pianinho” para não cair também.
Aqui eu pedi para Xuxu navegar sozinho porque eu não tinha porta mapas e andar de bike, à noite, com aquelas valas e ainda olhando o mapa... Ainda não cheguei nesse nível. Próxima prova com certeza terei meu porta mapas. No caminho para o PC 3 o pneu de Tadeu furou... Paramos para dar a manutenção, os meninos ficaram nesse trabalho e eu fiquei olhando o mapa, conferindo as distâncias e o percurso que faríamos no eucaliptal. A AA1 passou por nós enquanto trocávamos o pneu e era engraçado que sempre que nos encontrávamos Xuxu fêmea gritava pro Xuxu macho “Xu?” E ele respondia “Tô aqui”, rsrs parecia um código. Perdemos um tempão nesse pneu, uma dificuldade só, Tadeu próxima prova com um pito decente viu? Seguimos na busca do PC, nossa estratégia foi beirar o eucaliptal, ao invés de fazer a trilha interna. Manu caiu mais umas duas vezes, sempre quedas hilárias com o pé preso no pedal. Até a metade do caminho estava tudo bem, mas por alguma razão o azimute parou de bater com o que tínhamos no mapa, checamos o caminho duas vezes, estávamos certo da nossa localização. “Vamos seguir Márcio” eu sabia que a navegação dele estava certa, eu estava confiante e seguimos num caminho que parecia dar voltas e de repente, achamos o PC, “eu ein viu? Me senti completamente tonta!”.
“Pelo horário, 5:20 não temos muita opção, vamos pegar só dois prismas, os mais próximos”. Eu e Manu fomos pegar o B e Márcio e Tadeu foram atrás do C. Zé Icó me deu logo a dica do B, valeu Zé! Você é uma figuraça! Nos encontramos 5:40 e só achamos o PC B. A AA2 chegou também e foram buscar os PCVs. “Vamos embora”. Seguimos para pegar o E. Paramos, indicamos a Tadeu e o menino parece que tomou um choque, deu um pique danado, quando eu coloquei a bike no chão olha ele de volta! Fomos embora enquanto uma galera ficou lá procurando o PCV E.
Agora é o rappel. Tadeu foi fazer o rappel e nós três fomos arrumar as coisas, tirar o anorak, passar protetor solar e comer mais um pouco. A Makaíara estava acabando, e a Insanos estava lá esperando. Daqui a pouco a gente só ouve a voz de Zé Icó... Zé, eu preciso confessar que cada vez que nos encontrávamos era um momento de diversão. A frase de Zé no PC 4 foi “Insanos tá Olhando a Makaíra”, por causa da formação. Eu ri para me acabar. Esse cara é muito doido gente!
AA1 e AA2 ficaram lá com a gente conversando e o cansaço queria nos pegar. Eu levantei e comecei a colocar as bikes na pista para facilitar quando Tadeu chegasse.
À minha equipe: se eu fui chata alguma hora gente, foi só para nos manter acordados tá? Peço desculpas se enchi o saco de vocês. Arnaldão saiu com a Insanos e eu me gabei falando para ele “não tomei nenhuma queda na prova!” então para pagar minha língua, quando estávamos subindo a Linha Verde para o PC 5, Márcio Xuxu veio me dar um empurrãozinho. .. O guidão dele prendeu no meu e lá se foi Saroca pro asfalto com a perna presa na bike. Eu dei um gritinho e levantei logo para não deixar a dor chegar. Xuxu ficou tão arrasado me pedindo perdão que eu senti mais pena dele do que de mim mesma. Continuei pedalando e esqueci a dor. Ainda no asfalto avistamos alguém caído com a bike do lado. Pensei logo em atropelo, quando chegamos mais perto era Gaia, deitado esperando Arnaldo. Que susto!
Passamos por eles e no caminho de terra do PC 5 a gancheira de Márcio quebrou. Fala sério! Não acredito nisso! Que p** é essa? Paramos para tirar a gancheira. Passaram por nós AA1 e a “Insanos tá Olhando a Makaíra”. Márcio fez a manutenção da bike com Manu Véio e seguimos. Deixamos as bikes, a “Insanos tá Olhando a Makaíra” ainda estava lá. Trocamos a sapatilha, arrumamos as mochilas. Deixamos o que podíamos lá. E nessa hora Tadeu me tira dois pães DELICIOSOS da mochila, estavam com um gostinho de mangue é verdade, mas quem se importa? Brincadeirinha. Esse pão nos salvou!
Recomeçamos o trekking. O segundo mapa era mais difícil. Marquei o azimute do PC 5 ao PC 6 e disse “agora é rasgar mato se for preciso”. Saímos os 8 juntos conversando. Tadeu começou a sentir dor no joelho. Eu tava batendo o maior papo com Arnaldo. Márcio tava conversando com os meninos. E de repente eu pensei “Êpa! A prova ainda não acabou!” Comecei aquele trekking forte, lembra Lu da prova de SE? Pois foi aquele mesmo. Puxei Tadeu pelo braço e disse “quando aquecer a dor passa!”, Manu e Márcio vieram atrás. Nos distanciamos da Insanos, eles já estavam garantidos com os 3 PCV’s e nós não.
Nesse caminho olha a gente ouvindo Zé Icó de novo. Foi muito engraçado. Ele tava reclamando alguma coisa de rasgar mato. Falamos com Mauroba, os Xuxus se reencontraram e de repente a gente tava começando a entrar na morosidade de novo. Peguei Tadeu e fomos andando juntos. Ele até me disse que a dor no joelho tinha passado. Precisávamos achar uma passagem na vegetação para entrar no azimute que eu tinha marcado. Mauroba achou para gente, valeu Bildo. Fomos subindo um morro e passamos por uma floresta, bem jungle mesmo essa prova. Chegamos no alto e avistamos a praia, onde estaria o PC 6, se ele existisse. Estávamos lá em cima, AA1, AA3000, Companheiros e mais umas 2 duplas, eu acho. Chequei o azimute, iríamos abrir caminho sim. Enquanto eu tava olhando mapa e bússola, procurei os meninos e lá estavam eles correndo para descer o morro. Não entendi nada, eu comecei a correr para chegar junto deles quando ouvi Quilda dizer “deixa eles correrem, estão bem preparados”. Uhhuuu um elogio desses só me fez querer correr mais. E o pior é que eu nem tô preparada nada... Ah, outra coisa que eu não posso esquecer de falar, foram algumas vezes que nós ouvimos Quilda falando “estagiário” com Fred, gente que comédia, Fred parece uma criança de tão empolgado que ele fica. Descemos correndo todo mundo menos a AA1. Achamos uma trilha, andamos por ela, teríamos que ir mais um pouco para esquerda, para alinhar o azimute. Cortamos um outro trecho de mangue, bem menor que o primeiro, os meninos até acharam fácil. Entramos em outra estrada com marcas de pneu de moto. Na subida dessa estrada ouvimos as vozes de Mauro e Luciana, mas as vozes vinham de um mato fechado, ficou todo mundo sem entender, a sensação era que eles estavam do nosso lado só que a gente tava numa estrada bem marcada e eles estavam em algum lugar que não conseguimos achá-los. Parecia filme.
Bom, depois de umas 2h de caminhada desde o PC 5, chegamos em cima do ponto onde supostamente estaria o PC 6. Gente, foi do cara**. A navegação foi show! Saímos em cima da foz do rio, o PC estaria à esquerda, na beira mar como dizia o race book. Fomos todos correndo na direção do mapa e... Nada! Não é possível! Eu tenho certeza do que fizemos. O PC 6 deveria estar aqui! Fiquei arrasada, achando que tinha feito mer** na navegação, mas Márcio tava checando o tempo todo comigo, não podia ser isso. Eu fiquei em cima da duna e todo mundo foi procurar o PC 6. Todas as duplas e o nosso quarteto. 10 minutos. Nada. 15 minutos. Nada. 20 minutos. Quanto tempo mais? Eu comecei a sentir a dor da queda em toda a perna direita. Nada. Que frustração. Manu chegou primeiro que os outros e me disse que não tava achando nem Tadeu nem Márcio. Eles se distanciaram muito da gente.
“Manu será que eu fiz mer**? Será que o ponto não é esse?” Eu tava arrasada mesmo, tanto psicológica quanto fisicamente. A Insanos apareceu e foram andando pela costa ao invés de virem para a praia. Então eu vi alguma coisa se mexendo lá na curva do horizonte, bem longe. “Olha lá Manu é uma pessoa. Deve ser o PC, se é beira mar ele deve ter vindo olhar se tinha gente aqui, é o PC”. Depois de mais um tempo avistamos 4 pessoas e entendemos que era uma equipe e não o PC. Resolvemos esperar se aproximar para perguntar se eles tinham pego o PC6. Era a AA1 chegando, eu tava desejando tanto ver o PC que confundi Luciana com ele. Descemos para a praia e começamos a caminhar. Manu tava me rebocando porque eu já não pisava com a perna direita. Meu joelho doía tanto que a sensação era que eu tava com ele partido em algum lugar. AA1 passou por nós e seguiu, Fred ainda me disse “anda descalça que é mais confortável”. Fred eu acreditei em você e me dei mal viu? Fiquei com o pé cheio de bolhas! Ah Fred, seu malvado!
Terminamos a prova assim. Andando desolados, achando que tínhamos perdido o PC 6. Eu me achando uma bos** na navegação e ainda Márcio se separou de nós. Fomos andando devagar, tentando achá-lo pela costa. Tadeu apareceu depois de uns 30 minutos, mas Márcio não. Tadeu o avistou caminhando com a “Insanos tá Olhando a Makaíra” por dentro do vale. Continuamos andando na esperança de encontrá-lo. Maurão passou por nós e confirmou que o viu com a Insanos. Manu subiu no morro de novo tentando achá-lo. Tomamos uma decisão errada e seguimos para a chegada supondo que ele estava indo com a Insanos. Próximo à chegada o Skinter (acho que é esse o nome dele) da Paletada nos avistou e veio ao nosso encontro. Eu comecei a falar rápido que não achamos o PC 6, onde estava o PC 6? E ele me disse “foi cancelado. Não avisaram a vocês?”.
SILÊNCIO
Bom, nessa hora a minha raiva foi tão grande, tão grande que eu não consegui dizer uma única palavra. Cancelaram um PC e não nos avisaram!
Isso é muito grave!
Isso não poderia acontecer nunca numa corrida!
Falta de respeito com os atletas.
Isso acabou a prova da gente. Estávamos nos sentindo tão bem e perdemos algo em torno de 4h porque o trekking que fizemos foi desnecessário. O tempo perdido procurando o PC 6 foi desnecessário.
Márcio chegou um tempo depois e sentados na mesa eu gentilmente pedi que todos se desculpassem com Xuxu. Não queria que ele ficasse magoado conosco. Não queria deixar uma mancha na nossa equipe e os dois meninos, muito obedientes pediram desculpas. Foram sinceras viu Márcio? Desculpa a gente, não foi por maldade. Tomamos uma decisão errada.
Anderson nos pediu que mandássemos um recurso para ele (mandou Xuxu?).
*****
Quero agradecer à minha equipe que soube contornar os imprevistos e fazer uma prova show.
A gente botou pra fu**
A prova foi muito boa. O mapa estava perfeito.
Sincronia e respeito. Amizade e confiança. Raça. Superação física. Muito obrigada Emanuel, Tadeu e Márcio. Fizemos uma corrida belíssima.
Tadeu: alegria 100%. Até com sono ele tava alegre. Parabéns por superar o medo de água. Obrigada pela confiança. Esse menino vai longe!
Manu: meu companheiro de aventura! Treina comigo, me obriga a correr e gente do céu: ele confia mais em mim do que eu mesma! Obrigada Manu!
Márcio: só treinamos juntos para prova uma vez. Mas a sincronia foi muito boa. Obrigada por me suportar na hora das dúvidas, por me ensinar e por termos mantido um espírito de equipe.
E aos três: obrigada pela paciência quando eu tive que marcar o caminho, tava doendo tanto a barriga... Que hambúrguer é esse meu irmão? ;-)